segunda-feira, 19 de julho de 2010



"Como é bom ser amado por pessoas que não se cansam de nós.
Extraordinário é olhar para as pessoas que me amam e perceber
que elas extraem de mim a melhor parte para que elas possam
crescer com a nossa presença e com o nosso jeito de ser."

Pe. Fábio de Melo




A civilização grega sempre teve um passo adiante dos outros povos, seja nos progressos e descobertas na matemática, lógica, na ética, estética, e em tantos outros campos... Entre eles, estavam profundamente interessados no amor e, em sua relação com a alma humana.

Platão e outros filósofos acreditavam que o amor tinha como sede a alma e, a própria alma era portanto, o amor. Ela ainda comportava três dimensões, que correspondiam ao estômago, à mente e ao coração. Os gregos rotularam esses três tipos distintos de amor de eros, filos e ágape.

O amor eros é o amor “erótico”, sexual. Contudo, o conceito grego de eros na verdade se refira a todos os apetites físicos humanos. O apetite de comida e bebida era erótico (pertencente ao domínio do estômago), assim como o apetite do sexo – que traz consigo conotações de atração, encanto, mística, química e magnetismo animal.

O amor “filos” é o encantamento pelo intelectual. Filo é amar pessoas, coisas ou idéias de maneira não sexual. O relacionamento entre um aluno e seu professor pode ser de amor fílico, assim como alguém que ama seu trabalho e tem um relacionamento fílico com sua carreira. Você ama e celebra a própria vida? Isso também é filos. Uma das expressões mais poderosas de filos é a amizade...

A terceira e maior forma de amor dos gregos é ágape – o amor que nada busca em troca. É o tipo mais raro e valioso de amor. O que torna ágape diferente de eros e de filos é sua falta de egoísmo. Eros faz as pessoas lutarem para encontrar-se ou perder-se no outro. Filos faz com que queiram identificar-se com o outro. Agapé manifesta-se sem que o eu e seus motivos atrapalhem. Receber ágape é como sentir o sol brilhando sobre nós. Não há problema se brilha também sobre os outros; pelo contrário, queremos que os outros também o sintam. Dar amor agápico é como gerar a própria luz radiante do sol... É transmitir energia.

Alguns o fazem pela oração; outros pela meditação; pelas duras lições de vidas e a aquisição de sabedoria; outros ainda, pela busca mística; pela profissão... É quase que um amor místico, é indescritível, até Freud ao descrevê-lo desabafa: “Sou incapaz de descobrir em mim mesmo esse sentimento oceânico”. Os filósofos comparavam esta experiência (ágape) à sensação de uma gota que volta ao oceano, muitas vezes acompanhada de sensações visuais de luz divina, sensações auditivas de música divina, sensações gustativas de néctar divino ou sensações táteis de ser banhado pelo amor divino...

Eu, particularmente, tenho uma nova teoria para o amor ágape... É uma evolução do amor eros mais filos. Eles não sobrevivem separadamente, tem que haver sedução, tem que haver amor aos ideais – profissão, projetos e crescimento. Enfim, o amor ágape nos permite viajar pelo mundo do outro e vice-versa, num momento de pleno êxtase...
(Fonte: Esse texto é uma releitura do capítulo seis – O que é o amor / pag. 189 - do Livro Pergunte a Platão).